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Coluna NordestinaMente | Sobre a saúde das coisas que não podemos ver, somente sentir – Por Rômulo Raulino
Postado por Clistenes | 28/07/2020
Instagram: @Psi_Verso | @RomuloRaulinoPsi
Uma das definições mais antigas de saúde foi dada pelo médico Erixímaco, que era personagem no livro “O banquete” do filósofo grego Platão. Segundo o médico, saúde é o resultado de relações harmoniosas entre as partes de um Ser, assim como das relações harmoniosas entre o Ser e o resto do mundo. Além disso, quando as partes se relacionam bem entre si e se relacionam bem com resto, o Ser percebe isto em forma de amor. Assim, amor é o afeto que um ser vai sentir quando ele mantiver um estado saudável.
O conceito de saúde foi bastante ampliado de lá até aqui, mas hoje continua-se acreditando que o indivíduo é um todo e que, portanto, ele só pode ser saudável se todas as suas partes também estiverem bem.
Desse modo, uma parte bastante importante para a completude de uma vida saudável é a saúde psicológica. As pessoas tendem a preocuparem-se bastante com a parte física de seus sofrimentos, mas costumam negligenciar a parte psicológica. Destarte, qualquer dor no joelho ou na barriga que dure uma semana já é força suficiente para que procuremos ajuda médica e tratamento, entretanto é quase corriqueiro situações nas quais os indivíduos passam meses e até anos sofrendo dores emocionais e simplesmente prefiram fingir que elas não existem.
Uma possível explicação para essa negligência no cuidado em nossa saúde psicológica é a falta de conhecimento sobre as possibilidades de tratamento. Dessa maneira, pessoas que sofrem por traumas a um longo tempo geralmente não sabem que esse sofrimento pode ser muito amenizado ou até mesmo erradicado em muitos casos. As pessoas que sofrem caladas podem não saber que sua angústia não é um carma, nem uma fraqueza. O sofrimento psicológico é uma tentativa do indivíduo de se recuperar diante de traumas e adversidades vividas.
Outra possível explicação é a interpretação que algumas pessoas fazem de seu lado emocional, em que elas pensam que suas emoções são aberrações, fraquezas, castigos ou coisas que só causam mal. Essa visão negativa do nosso lado emocional é bastante adoecida e equivocada, pois as emoções não são boas nem más, nem tampouco tem conotação moral negativa, sendo elas uma parte biossocial importante da nossa vida.
Uma vida emocional saudável é aquela em que se tem um bom conhecimento das emoções, busca-se sempre entender o papel delas na vida e, o mais crucial, aceita-as como parte importante da experiencia humana. Parece um pouco estranho quando escutamos isso, pois se poderia perguntar: como posso aceitar uma emoção como a tristeza? Como posso aceitar algo como a ansiedade? Como aceitar a dor?
É bem verdade que algumas emoções, como as citadas acima, são bem desconfortáveis de se sentir, mas o fato mais lúcido é que não aceitar a tristeza não a diminui; pensar que não se deveria sentir ansiedade não vai diminui-la; ficar com raiva por sentir dor não irá amenizar esse afeto. Na verdade, pensar dessa forma sobre essas emoções só costuma aumentar ainda mais o desconforto! Aquele que sente uma tristeza e fica com raiva por estar sentindo-a termina se entristecendo duas vezes: a primeira pela tristeza em si, já a segunda pela raiva cativada.
Sofreríamos bem menos se nossa postura diante das emoções fosse de compreensão, autocompaixão e aceitação. Talvez sofrêssemos só uma vez, mas é justamente pela nossa ignorância de nosso lado afetivo que o desconforto vem em altas doses, as vezes insuportáveis.
Por fim, a saúde psicológica não é mais ou menos importante do que a saúde física, sendo ela uma parte que também precisa de nossa atenção e cuidado. É preciso lembrar que na vida não existem fórmulas mágicas para eliminar o sofrimento, nem tampouco para resolver os problemas. É preciso lembrar que a todo instante de vida podemos encontrar momentos tristes e desconfortáveis, mas que entre um momento de tristeza e outro podemos também experimentar um legitimo instante de alegria. Como já disseram tantos filósofos, saúde é um estado em que alcançamos o último nível de cura, a cura pelo amor.
Francisco Rômulo R. Santos – Psicólogo Clínico CRP 17/3125
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