Coluna NordestinaMente | Hábito x Culpa: é culpando o mundo que repetimos o erro – Por Rômulo Raulino


Postado por Clistenes | 31/03/2024

Instagram: @Psi_Verso | @RomuloRaulinoPsi

Nós temos uma grande dificuldade em mudar hábitos e comportamentos. Uma das possíveis explicações para isso é o fato de que mudar envolve esforço, trabalho, gasto de energia e que nosso cérebro tende a escolher a situação onde há menos gasto energético. Quase sempre a situação de menor gasto é repetir o que já fazemos. Então, para a pessoa que deseja começar uma dieta, esta vai precisar parar de comer como há muito tempo come, vai precisar se readequar a alimentos não tão desejáveis e/ou menos prazerosos e ainda vai precisar iniciar rotinas de atividades físicas. Toda essa mudança significa um grande dispêndio de energia e por isso a opção mais fácil é repetir os comportamentos alimentares já tidos, assim como a ausência de atividades físicas. É mais fácil repetir a vida que já se vive do que inaugurar uma nova.

Mesmo sendo tão difícil mudar determinados hábitos, algumas vezes temos consciência do dano que eles trazem para nossa vida. Desse processo surge um sofrimento psicológico específico (Weltschmerz): quando percebemos que o mundo é diferente das nossas expectativas e que ele nunca vai satisfazer completamente as exigências da mente.

Primeiro constatamos comportamentos danosos; logo em seguida nos deparamos com a grande dificuldade de mudá-los pelo grande gasto energético envolvido na mudança. Seguido a isso vem o sofrimento. Assim, é justamente para evitar esse sofrimento que as pessoas começam a achar culpados pela incapacidade de mudar. Exemplo: eu sei que preciso começar a me exercitar, mas não consigo, então eu culpo a falta te tempo na minha rotina ou fato de ninguém ir se exercitar comigo.

Culpar as coisas e as pessoas por nossa dificuldade de mudar é um mecanismo psicológico que nos polpa da dor de ver a vida sempre igual e com os mesmos defeitos.

Sempre podemos ver nos problemas dois lados: o lado que não depende da nossa ação para se resolver e o lado que efetivamente depende da nossa intervenção para se solucionar. Exemplo: Eu sei que preciso acordar cedo todos os dias e detesto acordar nas primeiras horas da manhã, então em vez de assumir essa dificuldade e treinar minha mente e adaptar meu corpo a levantar mais cedo eu fico culpando o trabalho ou a faculdade/escola por exigir que eu esteja lá naquele horário todos os dias.

É possível que alguns de nossos problemas tenham uma participação dos outros, mas sempre culpá-los por nossos dilemas é condição para não haver mudança em nós. Afinal, se é sempre o outro o culpado por minhas dificuldades porque eu deveria mudar?

Achamos culpados para nossa dor buscando não assumir nossa responsabilidade com ela para não gastar energia tendo que mudar. Repetimos sempre os mesmos hábitos e culpamos o mundo para não sofrermos com o fato de que nós somos os grandes responsáveis de lidar com toda alegria e também com toda a tristeza de nossa existência.

O filósofo Epicteto deixou uma perspectiva para enfrentar melhor as dificuldades da vida. Nas suas palavras, “A principal tarefa na vida é simplesmente esta: identificar e separar questões de modo que eu possa dizer claramente para mim mesmo quais são externas, fora do meu controle, e quais tem a ver com as escolhas sobre as quais eu, de fato, tenho controle. Onde, então, devo buscar o bem e o mal? Não em externos incontroláveis, mas dentro de mim mesmo, nas escolhas que são minhas…”

Por fim, uma estratégia possível para de fato mudar hábitos nocivos seria evitar culpar as coisas e os outros, pois estes quase sempre não estão no nosso controle, e assumir a responsabilidade por nossas vidas, começando a perceber o que de fato depende da nossa ação. A maior lição é fazer o que se pode para sempre melhorar e enfrentar as dores do mundo com lucides, aceitando que para realizar uma grande mudança precisamos começar mudando as coisas mais simples. Antes de mudar nosso mundo é preciso que mudemos primeiro.

Francisco Rômulo R. Santos – Psicólogo Clínico CRP 17/3125

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