Coluna Causos Potiguares | “A Doida” – Por José Holanda

Postado por Clistenes | 18/09/2020

Instagram: @Rebberty

Essa é Maria. Pra falar dela vou citar um conto de Drummond chamado “A Doida”. A personagem morava em um chalé, onde todas as crianças do bairro passavam e jogavam pedras. E assim gerações de moleques passavam por sua porta oferecendo chingamentos e pedras. “A loucura parecia antes erro do que miséria”. Eis que um dia um grupo de garotos, por algum motivo , entra na casa da “doida”. Um deles vai ao quarto. Enquanto entrava no cômodo, descobre uma senhora frágil, doente e indefesa, e chegam ao momento de epifania: conseguiu enxergá-la. Sua humanidade saltava aos olhos. O garoto pega um copo de água, abre a cortina deixando a luz do sol entrar e senta na cama com ela.

Essa da foto é Maria. Cresci a vendo ser chamada de “Maria Doida”, mesmo com sua total relutância de ser chamada assim. Ela andava muito pela cidade de Pau dos Ferros. Nas suas andanças parava em várias casas do bairro São Benedito pra conversar. Conhecida por todos da minha geração. Foi estigmatizada pelo problema mental como se fosse uma culpa e não sua miséria. Ela era uma pessoa de muita fé em Jesus e em Maria ,”avemaria 3 veiz”, dizia ela. Não está mais entre nós. Está livre do peso da “loucura”. Essa história ( de Maria) é real.

Nesses tempos de pandemia, problemas de saúde mental têm aflorado. Tenhamos cuidado pra não culpar as pessoas por suas misérias. E por outro lado, façamos o exercício de parar de chamar pessoas ruins de loucas. Pessoas com Deficiência Mental sofreram genocídio durante o nazismo/fascismo alemão. E hoje sofrem com o genocídio moderno.

Fascista não é louco. É mau !!!

Dedico esse texto a @marisialinsmendes e flordlis_store que cuidaram dela com tanto amor no CAPS e conseguiu segurá-la pra essa foto. 

Ps.: Maria recebeu muito amor também!!!